OS SABERES DA GENTE DO MAR: O IMAGINÁRIO E AS EXPERIÊNCIAS DE VIDA DOS PESCADORES DA VILA DO TREME, BRAGANÇA (PA)
Narrativa. História oral. Memória. Identidade. Pescadores artesanais
Neste estudo apresento as análises das narrativas orais dos pescadores da vila do Treme-Bragança (PA), constituídas a partir dedepoimentos das experiências de vida e narrativas míticas dos pescadores, coletadas na comunidade durante a realização da pesquisa de campo com técnicas e procedimentosmetodológicos da história oral com base etnográfica, considerando a presença do pesquisador, mesmo que em curto espaço de tempo, no local da pesquisa. O objetivo central é compreender a formação de identidades dos pescadores da referida vila por meio do seu ponto de vista, ou melhor, priorizando os saberes tradicionais repassados de geração a geração no contexto social desta prática milenar, a pesca artesanal. As reflexões apresentadas estão fundamentadas nos estudos sobre a memória no percurso das reminiscências dos pescadores (HALBWACHS, 2004; LE GOFF, 1996; RICOEUR, 2007; SARLO, 2007). Abordarei sobre importância das fontes orais na geração de dados por informarem mais do que simples acontecimentos, não somente fatos, mas o significado destes para quem os vivenciou e os reconta (PORTELLI, 2001; ALBERT, 2005; THOMPSON, 2002). No que concerne as narrativas míticas, pressupõe-se que o narrado e o vivido pelos pescadores, na medida que se constituem de elementos que representam o comportamento desses sujeitos, são a expressão do seu próprio modo de vida e sua representação da realidade(GREIMAS, 2001; ELIADE, 1976; BARTHES, 2011; GENETTE, 1985). A pesquisa na comunidade da vila do Treme permitiu a elaboração de um conjunto de informações sócio-histórica que não pode ser considerada em toda sua complexidade, porém, mediante as informações apresentadas neste estudo temos a possibilidade de estabelecer algumas considerações basilares sobre a importância das narrativas e da história oral para os pescadores artesanais, tais como: a perpetuação dos saberes passados de pai para filho, a manutenção da tradição dos pescadores, a simbologia mítica discursiva como representação da realidade, a variedade discursiva como constructo social (BOURDIEU, 1998), a formação ambígua e ambivalente da identidade dos pescadores (BAUMAN, 2005). Este estudo pretende contribuir para a valorização e legitimação dos saberes tradicionais no âmbito acadêmico e ampliar o conhecimento acerca da pesca artesanal na região amazônica.