GÊNERO E TERRITORIALIDADE NA CONFIGURAÇÃO DAS PERSONAGENS FEMININAS INDÍGENAS NAS OBRAS DOIS IRMÃOS E ÓRFÃOS DO ELDORADO
Crítica Feminista. Gênero. Milton Hatoum. Mulheres indígenas
A Crítica Feminista, juntamente com os temas gênero, etnia e territorialidade, são os
instrumentos utilizados neste trabalho para discutir a questão feminina indígena na literatura
produzida por Milton Hatoum, especificamente, nas obras Dois Irmãos (2006) e Órfãos do
Eldorado (2008). Para tanto, são analisadas as personagens Domingas, Dinaura e Florita na
perspectiva de refletir sobre as estratégias de resistência desenvolvidas por essas mulheres ao
longo de suas vidas. Uma análise que só é possível a partir da Crítica Feminista, que permite
uma releitura das personagens femininas ao mudar o foco da análise, dando ênfase a aspectos
menos evidentes em sua constituição. No intuito de compreender como as indígenas brasileiras
se posicionam em relação ao movimento feminista, analisou-se a formação do movimento das
mulheres indígena que surge em paralelo à organização do movimento indígena na década de
1970. Suas organizações são atuantes e se fortaleceram com o tempo, contudo, não se sentem
contempladas pelas pautas feministas das mulheres não indígenas. Perpassando essa discussão,
percebe-se que Domingas, Dinaura e Florita, em função de sua condição de gênero e de etnia,
são forçadas a se deslocarem de seus territórios e transformarem suas identidades. O
deslocamento compulsório vivido por estas personagens suscita a discussão sobre
territorialidade, desterritorialização e reterritorialização. Os critérios de análise da Crítica
Feminista são ainda usados para identificar o quanto de resistência Milton Hatoum conseguiu
imprimir nas personagens em estudo, numa proposta de desconstruir a imagem de mera
subjugação, em que são postas inicialmente. Nesse contexto, mulheres indígenas e não
indígenas estão percebendo a necessidade de buscarem um diálogo agregador, capaz de romper
com a lógica colonial, construindo assim uma proposta decolonial, na qual sugerem que os
conhecimentos locais sejam incentivados e potencializados, num movimento de construção de
novos paradigmas capazes de contemplar a diversidade cultural e política da sociedade
brasileira.