“AFINAL DE CONTAS, QUE ESPÉCIE DE PROTEÇÃO É ESSA?”: INDÍGENAS, NATUREZA E O SERVIÇO DE PROTEÇÃO AOS ÍNDIOS NA AMAZÔNIA (1940-1950)
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História Ambiental. Serviço de Proteção aos Índios. Povos Indígenas. Amazônia.
Essa pesquisa objetiva analisar as relações socioambientais, o protagonismo indígena e as visões sobre a natureza que emergiram da atuação do Estado Brasileiro no território do Alto Rio Guamá, bioma amazônico entre os rios Guamá e Gurupi, durante o fim da primeira metade do século XX (1940-1950), especificamente a partir da atuação do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) junto aos Tenetehar-Tembé e outros grupos indígenas, como os Urubu-Ka’apor, na fronteira dos estados do Pará e do Maranhão desde as atividades dos postos indígenas (PI) Felipe Camarão, Pedro Dantas e Tembé. Sob o comando de Getúlio Vargas esse período, conhecido como Estado Novo (1937-1945), inaugura uma nova forma de pensar a Amazônia. As fontes utilizadas são documentos da 2a Inspetoria Regional (IR) do SPI, entre os anos de 1940 e 1950, além de decretos, fotografias, matérias de jornais e entrevistas realizadas em campo com indígenas Tembé. A documentação proveniente do SPI está disponível no Laboratório de História e Patrimônio Cultural da Amazônia (LABHIST), em razão de acordo realizado entre a Faculdade de História da UFPA (FAHIST), campus Bragança, com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). A metodologia utilizada para analisar as fontes foi baseada na história documental, alinhada na perspectiva apontada por Bacellar (2008). A leitura crítica dessas fontes sob a perspectiva da história ambiental permitiu ampliar a compreensão sobre as dinâmicas sociais existentes e tornaram possível perceber as disputas e negociações que se criaram em torno do uso e da exploração dos recursos naturais disponíveis na região. Esses postos indígenas podem ser compreendidos como verdadeiros sistemas produtivos que deveriam auxiliar na implementação da política varguista na Amazonia e seriam os responsáveis por levar a “técnica” de trabalho e elementos nacionalistas que finalmente integrariam a região e os indígenas ao restante do país. Através da análise das fontes argumentamos que os conhecimentos indígenas sobre o ambiente da região foram decisivos para o funcionamento desses postos, visto que puderam definir a prosperidade ou o fracasso desses empreendimentos. A partir das complexas negociações e relações estabelecidas entre os Tembé e outras etnias com os trabalhadores do SPI podemos refletir também sobre como elementos ambientais podem ter limitado algumas atividades desses postos, ao mesmo tempo que o funcionamento destes causaram impactos ambientais nessa área.