“A VISIBILIDADE É UMA ARMADILHA”: VIGILÂNCIA E PRÁTICAS DO VISÍVEL EM MICHEL FOUCAULT
Foucault, Panóptico, Visibilidade, Vigilância, Disciplina.
O presente trabalho pretende investigar de que modo surge, a partir do século XIX com o advento da sociedade industrial e do poder disciplinar, um tipo de visibilidade específica que Foucault vai chamar, em Vigiar e Punir, de panóptica, e que possui como função primordial a vigilância dos corpos individualizados dos sujeitos nos seus diversos espaços de efetivação (prisão, escola, fábrica, etc). Tal visibilidade se constitui como uma prática do visível, isto é, uma técnica pela qual o poder se exerce, tal como as práticas penais ou práticas do saber, que variam historicamente de acordo com a época observada: assim, no antigo regime havia uma prática do visível condizente com o poder soberano, ou seja, uma visibilidade espetacular, cerimonial e ostensiva. Por sua vez, a vigilância panóptica é essencialmente ligada ao poder disciplinar e a forma como a disciplina organiza, distribui e separa os corpos na sociedade industrial que se instaura com a ascensão da burguesia como classe dominante, e sua necessidade de transformar os corpos em forças produtivas docilizadas. Nossa trabalho por tanto parte dessa afirmação de que as práticas do visível, tanto quanto outras formas de tecnologias políticas, possuem sua especificidade e irredutibilidade, mas também suas conexões e complementaridades com o regime de poder em voga em seu período, o que nos leva a estudar a visibilidade de cada período descrito por Foucault, demonstrando que não há somente o panóptico como forma do visível, mas também outras formas de visibilidade. Nossa problemática é, portanto, a seguinte: como e por quê a vigilância panóptica se estabeleceu como hegemônica na sociedade disciplinar?