Kant, Goethe e a Teoria da Natureza
Filosofia da Natureza, Kant, Goethe, Estética.
O ponto inicial para nossa pesquisa foi a indicação de Cassirer a respeito de um contraste evidente a entre a aproximação das concepções de natureza de Goethe e Kant, pretendida pelo poeta. O interesse em identificar uma ligação entre esses dois grandes personagens da cultura alemã se deve ao registro feito por Johann Eckermann em Conversações com Goethe, quando este afirma que não conhecia nada a respeito da teoria kantiana antes de escrever seu ensaio A metamorfose das plantas. Apesar disso, e o fato dessa obra ter sido publicada em 1790, mesmo ano em que aparece a Crítica do Juízo, Goethe entende que há uma base teórica comum entre seu estudo botânico e, principalmente, a segunda parte da terceira crítica. O contraste a que Cassirer se refere é indicado pela influência da matemática e da teoria newtoniana (mecânica clássica) no pensamento de Kant, e a contraposição de Goethe tanto com a matemática quanto com a teoria física de Newton. A questão é: de qual consideração sobre a natureza podemos indicar um elo de ligação entre a obra crítica de Kant – Crítica da Razão Pura e Crítica do Juízo – e as obras científicas e literárias de Goethe, de modo que pretensão filosófico-científica do autor de Fausto seja justificável? Como aproximar duas teorias que apresentam contraposição fundamental? Teria Goethe feito uma leitura parcial da obra kantiana, sem considerar o enorme peso da influência newtoniana? Qual a abertura que há, na obra teórica de Kant sobre a natureza, que permita uma compreensão não exclusivamente objetivo-mecanicista, de base matemática? Estas são questões centrais que norteiam o problema levantado pela nossa proposta de pesquisa. Mas não queremos nos limitar a estes questionamentos de ordem mais geral. No decorrer da nossa exposição, tentaremos aclarar como seria possível a resolução dessas dificuldades, visto que Goethe estava longe de ser apenas um intelectual diletante, pouco informado sobre os assuntos de que trata com tanto interesse, como é o caso da sua obra científica, considerada, segundo sua própria declaração, mais importante do que sua obra literária.