SOBRE A ATUALIDADE DO CONCEITO MÁQUINA ANTROPOLÓGICA DO HUMANISMO, DE GIORGIO AGAMBEN: CONTEXTUALIZAÇÃO, CRÍTICA, E UMA RESPOSTA A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA MULTIESPECÍFICA DA BIOPOLÍTICA
Máquina antropológica. Biopolítica. Estudos animais. Capitaloceno.
A presente pesquisa propõe perquirir a atualidade da ideia da máquina antropológica do humanismo, proposta por Giorgio Agamben na obra L'Aperto: l’uomo e l'animale, aos contornos do atual panorama político. Este conceito, que compreende o conjunto de discursos e práticas que constroem o que nós entendemos por humano (e humanidade) em contraposição ao animal (e à animalidade) numa lógica dual de inclusão e exclusão, produz modelos de antropogênese que ressoam gravemente na vida política do Ocidente. Apesar de entendermos que tal terminologia sintetiza com sucesso este conjunto heterogêneo de práticas, argumentaremos que, para que ela seja efetivamente uma ferramenta conceitual utilizável, precisamos situá-la não só no âmbito de uma crítica ao humanismo, mas também no contexto maior de uma visada não-antropocêntrica da problematização da política – no caso, uma consideração multiespecífica da biopolítica. Neste sentido, tentaremos enquadrá-la nas discussões e revisões críticas que as Humanidades vêm experimentando diante da ciência do fato do Antropoceno (ou melhor, do Capitaloceno: o fato do homem – capitalista – ter se tornado um agente geológico e inaugurado um ponto de virada em direção a um tempo cada vez mais intenso de devastação e extinção de diferentes formas de vida).