Senso comum e ciência em Popper
Popper; falibilismo; ciência; senso comum; opinião.
O objetivo da presente pesquisa é investigar as relações de proximidade entre senso comum e ciência no pensamento de Popper. Pretendemos discutir tais relações e elucidar em que termos, a ciência pode ser considerada o senso comum esclarecido, conforme o filósofo nos deixa entrever. Faz-se necessário, entretanto, deixar claro o que o filósofo entende por senso comum e por ciência, bem como as distinções entre ambos. A problemática se delineia devido ao fato de que Popper nega o ideal de episteme tradicionalmente defendido por alguns filósofos da ciência, quando considera que a ciência é conhecimento falível e passível de erro, a define pelo seu caráter negativo, a falseabilidade e conclui que mesmo as teorias que foram corroboradas, são verdades provisórias, pois trazem consigo a possibilidade futura de virem a ser falseadas. Entretanto, ao negar o caráter positivo de conhecimento certo, justificado e comprovado à ciência, sir Karl estaria reduzindo-a a mera opinião? Em outras palavras, ao negar o ideal de episteme, Popper estaria reduzindo a ciência a doxa ou ao senso comum? A presente pesquisa será norteada pela hipótese de que Popper não reduz a ciência a doxa ou ao senso comum, pois ele defende a ideia de que ela é o senso comum esclarecido, ou seja, entende que há distinções entre esses dois tipos de conhecimentos, tanto pelo grau de profundidade com o qual os fenômenos são analisados, quanto pelas justificações que os cientistas fornecem as suas conjecturas. Não obstante, apesar de distinguir a ciência do senso comum, Popper aproxima tais conceitos, uma vez que, para ele, a ciência pode tomar o senso comum como ponto de partida de suas investigações, ou seja, as “informações”, opiniões, instintos, ou crenças do senso comum podem servir como hipóteses a serem investigadas pela ciência. O que nos permite especular que, no pensamento do filósofo, a ciência pode ser considerada o senso comum esclarecido. Nesse sentido contraporemos o pensamento de Popper, que vê relações entre senso comum e ciência, à posição de filósofos que defendem uma separação ou ruptura entre tais saberes.