O Conceito Kantiano de Paz Perpétua sob a Perspectiva Cosmopolita Contemporânea
Conflitos. Alteridade. Multilateralismo. Paz Perpétua. Kant.
As crises que assolam a humanidade na contemporaneidade não surgiram de forma espontânea como se não houvesse causas históricas e sociopolíticas imbricadas em suas origens. Há, desde o nascedouro da consciência crítica do homem, uma tentativa de entender porque ao mesmo tempo em que se busca um bem comum de forma pacífica, a humanidade se vê submersa em conflitos dos mais incompreensíveis em face às suas relações interpessoais. Dentro desse contexto de incertezas morais e de crises humanitárias internacionais que caracterizam tão bem nosso século, buscar uma compreensão acerca dos males que assombram o homem torna-se relevante, bem como buscar uma solução que traga, se não a erradicação, ao menos a amenização das dores que as crises trazem como consequência. Kant, em À Paz Perpétua (Zum Ewigen Frieden), ao pensar uma solução para a pacificação dos conflitos internacionais, nos brinda com ensinamentos valiosos sobre relações políticas e humanas e prenuncia dois temas fundamentais no âmbito da contemporaneidade que é o multilateralismo e a alteridade; a primeira alicerçada na concepção de uma confederação de Estados em prol da paz e a segunda pela hospitalidade ao estrangeiro, a partir da ideia de um direito de cidadania universal. Com isto, a pesquisa tem o objetivo de analisar o conceito de paz para Kant dentro da função do Estado por ele desenvolvido, relacionando-o com a [des]ordem cosmopolita contemporânea para, enfim, tentar dar resposta a problemática sobre o papel do Estado no pensamento de Kant para o constructo da paz e sobre a sua possibilidade de exequibilidade frente aos conflitos internacionais contemporâneos. A hipótese, de fato, é que há uma possibilidade neste sentido, desde que haja uma cooperação mais efetiva entre as nações e se respeitem as diferenças identitárias entre os homens, dois pontos fundamentais já abordados por Kant ao tratar os elementos definitivos para o alcance da paz; uma concepção de paz que está inserida na sua filosofia política e da doutrina do direito, temáticas diretamente relacionadas à sua crítica da razão prática.