As representações inconscientes e o Eu penso em Kant
Inconsciente. Representação. Apercepção transcendental. Obscuro.
Resumo: Esta pesquisa tem por objetivo analisar o conceito de representações inconscientes em Kant e sua relação com o conceito de apercepção transcendental, ou o Eu penso. A existência de um gênero próprio de representações, as inconscientes, são apontadas em várias obras de Kant, dentre as quais se podem citar a Antropologia de um ponto de vista pragmático e a Crítica da razão pura. São representações das quais se pode destacar na filosofia de Kant dois aspectos principais, sendo o primeiro a amplitude, pois elas abarcam o campo teórico, prático estético, e, o segundo a positividade, no sentido de desempenharem um papel positivo tanto na produção do conhecimento, quanto nos demais processos mentais – no estético e no moral. Entretanto, quando considerado o conceito de inconsciente frente ao princípio da apercepção transcendental, surge uma problemática: como afinal, compreender a existências de tais representações na filosofia de Kant, se o Eu penso implica em uma referência necessária de toda representação à consciência? Kant é mesmo enfático ao afirmar que se as representações não se referem a este princípio, elas não são nada para um sujeito (Crítica da razão pura, B131). Com efeito, com vistas a tentar fornecer uma solução a tal problemática, partiremos de três hipóteses relevantes para a questão, onde a primeira, nega as representações inconscientes, pelo fato de colocar uma exceção, pois remetem a uma objeção, a uma contradição ao princípio do Eu penso, afinal, frente a um eu que nem sempre possui consciência de seus atos, pode-se dizer que há certa indeterminação quanto à identidade deste eu – uma cisão, por assim dizer – é a tese de Locke; a segunda, considera a existência não contraditória das representações inconscientes com o Eu penso, na medida em que, junto com a consciência, constitui uma unidade absoluta na ‘subjetividade transcendental’ (TUSCHLING, 2002, apud, Rocca, 2007); por fim, a terceira, a qual sustentaremos, junto com La Rocca (2007) e Heidemann (2012), que compreende o princípio da apercepção transcendental sempre como uma possibilidade estrutural, não uma efetividade em termos psicológicos – ser consciente ou inconsciente –, mas uma estrutura lógica que diz respeito a forma pela qual a representação precisa referir-se.
|