A recepção das Bacantes no Banquete de Platão
Banquete. Eurípides. Drama. Filosofia. Alcibíades.
É comum falarmos que o discurso propriamente filosófico de Platão, ao longo de seus diálogos, é indiretamente apresentado, uma vez que ele é filtrado pelas lentes de um quadro dramático complexo. Isso as vezes tem como consequência duas linhas de abordagem da obra do filósofo. Uma que a vê como “discurso literário” e outra que procura fazer uma leitura “puramente analítica” dos textos. O que nos propomos fazer é não escolher entre uma e outra dessas formas de leitura, e pensar a integração delas como um fator essencial para a compreensão do pensamento de Platão. Assim, cremos poder manter em equilíbrio a relação entre a forma dramática dos diálogos e seu conteúdo filosófico. Apoiados nessa perspectiva, a presente dissertação tem por objetivo investigar a relação entre a filosofia e o drama, uma vez que nos deparamos com ambos como elementos constitutivos e indissociáveis da obra de Platão. E para melhor explorar nosso tema faremos uso do Banquete, focando nossa atenção no famoso diálogo entre Sócrates e Alcibíades, relacionando-o às Bacantes, de Eurípides, mais especificamente com o personagem Dioniso. O nosso objetivo é evidenciar que em ambos os casos a questão central é a ambivalência da natureza humana, ora regida pelo logos, ora regida pelas paixões. Com esse passo, podemos tornar mais natural a inserção de elementos dramáticos na filosofia platônica, reorientando nossa visão sobre um artificialismo no uso desse recurso pelo filósofo, suposto por aqueles que veem em sua reflexão sobre a poesia um afastamento que não permite mais nenhuma conciliação.