Hegel leitor de Saint-Domingue: por uma análise do conceito de espírito efetivo
Hegel; Haiti; Liberdade.
O problema desta dissertação aborda a hipótese de Susan Buck-Morss em “Hegel e o Haiti”, sobre a existência de uma contradição no seio do conceito de liberdade e o sentido da escravidão em Hegel e a influência da Revolução do Haiti na concepção dos personagens do senhor [Herr] e do escravo [Knecht]. A partir de uma história das ideias sobre a dialética do senhor e do escravo, Morss apresenta indícios sobre a chegada de notícias da Revolução do Haiti (1791-1804) no velho continente em meados dos oitocentos e da inspiração neste fato para a elaboração da “Fenomenologia do Espírito” (Phänomenologie des Geistes). Por sua vez, para uma reconstrução interna sobre a origem da dialética senhor e do escravo, o trabalho centra-se na análise do conceito de espírito efetivo [wirklicher Geist] desde os esboços de Jena sobre sistema do jovem Hegel e parte para uma possível viragem em “A razão na história” (Die Vernunft in der Geschichte) e na “Filosofia do Direito” (Grundlinien der Philosophie des Rechts) cujo viés conservador parece equiparar a escravidão à consciência infeliz. Destaca ainda a mudança de ênfase sobre a negatividade para tratar a liberdade como sistema e problematiza como a ideologia afeta o pensamento hegeliano em sua recepção dentro e fora da Europa. Por meio de uma revisão crítica apoiada em Mbembe, a hipótese é de que se o Haiti é a afirmação de uma identidade local, então a negatividade deve dar fim à reificação. Deste modo, não é o senhor quem concede a liberdade ao escravo e sim o escravo quem se liberta por meio da própria luta onde tornar-se consciente de si [Selbstbewusstseins].