O lugar do poeta Eurípides na primeira estética de Nietzsche: tensões e ambiguidades na recepção da tragédia grega
Eurípides. Antiplatonismo. Crítica.
Em seu primeiro livro, Nietzsche ensejou tocar nos temas mais candentes de seu tempo, entre os quais se encontra o problema da ciência como modelo de apreciação da vida, cujo reflexo mais significativo se expressa na figura do homem teórico – fruto do racionalismo oriundo da metafísica socrático-platônica. Embalado por suas esperanças de renovação das artes germânicas, o filósofo procurou na Grécia uma espécie de contramodelo. Tal empreendimento exigiu todo um estudo a respeito da origem e declínio da arte trágica no qual Eurípides ocupa um papel de destaque. Assim, buscamos refazer este percurso em torno do “Nascimento da Tragédia” de modo a pensar o poeta, para além do lugar comum (quase sempre ligado a uma cerrada crítica), também como uma possível e importante referência para aquele momento, pondo em evidencia as tensões e ambiguidades em torno da interpretação nietzschiana da tragédia. Neste sentido, nossa pesquisa pretende apresentar os deslocamentos teóricos operados pela filosofia trágica do jovem Nietzsche, de maneira a apontar para as bases com que ele lança sua própria proposta estética fundada na metafísica de artista. Na sequência, defendemos que Eurípides ocupa um lugar dentro do projeto nietzschiano de um antiplatonismo. Por fim, analisamos as máscaras ou facetas do tragediógrafo com e para além da crítica de Nietzsche.