A "cultura em si" em Foucault
Cuidado de si. Cultura de si. Exercícios espirituais. Foucault. Hadot.
Esta dissertação tem como objetivo analisar a apropriação que fez Michel Foucault, em seus últimos trabalhos e particularmente a partir da Hermenêutica do Sujeito (1982), de aspectos da ética antiga, com atenção especial para a noção de “cultura de si”, amplamente trabalhada e pesquisada pelo autor durante todo o curso ministrado naquele ano no Collège de France. Portanto partimos da analise deste curso até chegarmos, no capitulo III de nossa dissertação, aos dois últimos volumes da História da Sexualidade, e particularmente no último, intitulado “O Cuidado de Si”, no qual o autor retorna ao tema da cultura de si. Portanto, essa pesquisa se localiza na última fase do autor, especificamente nos dois últimos anos de sua produção filosófica, haja vista que em 1984 o mesmo veio a falecer interrompendo prematuramente sua pesquisa. Outra questão que colocamos na dissertação é a polêmica relação entre as ideias foucaultianas de “cuidado de si” e “estética da existência” e a concepção de “exercícios espirituais”, de Pierre Hadot. A partir do curso de 1982, Foucault volta sua atenção para ao pensamento greco-romano. Para todos que pesquisam seu pensamento, isto provavelmente surpreendeu, pois seu campo de estudos não era esse, uma vez que a modernidade ocidental sempre tinha ocupado um lugar privilegiado em suas análises. Não apenas muda o período histórico, mas uma nova forma de abordagem da questão do sujeito, colocando como seu interesse um estudo das formas pelas quais o sujeito compreendeu a si, isto é, enxergou a si próprio como objeto de saber, apto a ser compreendido. Na Hermenêutica do Sujeito, curso capital nesta dissertação, nos aventuramos por essa questão tentando perceber como foram constituídas as formas pelas quais os sujeitos são constituídos. O sujeito que cuida de si, do qual falamos não é um sujeito universal e a priori, mas um sujeito constituído historicamente, a partir de práticas distintas. O que buscamos é compreender esta forma, a maneira como ela foi desenvolvida na civilização greco-romana e posteriormente foi assimilada por todo o ocidente. O título já reflete essa ideia, ele é o cartão de visita, expõe a proposta a ser abordada. A estrutura da dissertação foi pensada em três capítulos. No capítulo I foi trabalhado a noção de “cultura de si”, em especial no curso Hermenêutica do Sujeito. No capítulo II será trabalhada a relação conflituosa entre Foucault e Hadot. E, finalmente, no capitulo III a noção de cultura de si nas obras posteriores ao curso de 1982.