Hume e a impossibilidade de se viver o ceticismo pirrônico
Hume. Ceticismo pirrônico. Crença. Vida comum.
Para Hume, o cético pirrônico nunca existiu e, nem tampouco o poderia, posto que sua escola filosófica, ao pretender eliminar por raciocínios todas as crenças, extingue qualquer espaço para a vida comum. Sem crenças, no final das contas, ninguém age, portanto, todo cético pirrônico está fadado a ser incoerente com sua filosofia, pois se assim não for, a apraxía (inanição) o levará inescapavelmente à morte. Traçado o problema, objeto geral desta dissertação, se fará o cotejo com o texto de Sexto Empírico, mormente o livro I das Hipotiposes Pirrônicas, em que seu autor desenvolve resposta ao problema abordado por Hume. Em seguida, será confrontada a resposta de Sexto com o desenvolvimento filosófico de Hume, que o conduziu ao naturalismo, ceticismo e mentalismo. Considerar-se-á as contemporâneas reinterpretações de Sexto, e seu pirronismo, que procuram “salvar” a possibilidade de efetivamente o cético ser coerente com seu ceticismo, e, com isso, refutar a crítica humeana. Para eles, é admissível, em Sexto, uma espécie de crença não-dogmática, que escaparia à suspensão do juízo, posto que fundadas apenas nas aparências geradas por impressões sensíveis. Será considerado a pertinência dessa interpretação, i. é, a distinção entre assentimento voluntário e involuntário. Tais aparências, decorrentes de assentimento involuntário, permitem, segundo Sexto, a observação de quatro regras-guia para vida. Dessa forma, o cético seria ativo, e, portanto, coerente com sua escola. Considerar-se-á, por fim, o impacto dessa interpretação à crítica de Hume; se ele interpretou erroneamente o ceticismo antigo; se há, em sua filosofia, mais parentesco com a escola pirrônica do que ele admite?