O VALOR ÉTICO-POLÍTICO DA VULNERABILIDADE: uma crítica ao individualismo neoliberal a partir de Judith Butler
Luto; Reconhecimento; Vulnerabilidade; Precariedade; Neoliberalismo
A presente dissertação propõe-se a investigar como a vulnerabilidade primordial – que emerge com a nossa própria vida – poderia atuar como recurso ético-político em direção a proteção dos elos de interdependência que fundamentam as condições de possibilidade de nossa existência física, psíquica e social em oposição à moral neoliberal de responsabilização individual. O fio condutor será as reflexões da filósofa Judith Butler em defesa do potencial político do luto. Para alcance do referido objetivo, este percurso articula-se em torno de três principais discussões: a primeira demonstrando como a suscetibilidade e impressionabilidade constituem pré-condição para nossa humanização e subjetivação, bem como, evidenciando a complexa e ambivalente matriz de relações que atravessam a abertura do ser humano ao mundo e fundamentam o seu devir sujeito. A segunda investigando a relação entre moralidade e neoliberalismo na indução política de precariedade e distribuição desigual do luto. Neste momento, elucidaremos como o luto opera como descritor da inteligibilidade da vida, subvertendo o entendimento comumente difundido de que o valor da vida reside desde o nascimento. E a terceira e última discussão mobiliza uma compreensão do luto que resgata aspectos da psicanálise ao mesmo tempo em que os excede na proposição de uma teoria política comprometida com a diluição da distinção entre vidas vivíveis e matáveis. Aqui, também defenderemos o valor ético da opacidade para proteção de nossa relacionalidade constitutiva. Diante do recrudescimento de agendas neoliberais e neoconservadoras experimentadas nas democracias liberais ocidentais, sobretudo, no Brasil espera-se que esta pesquisa possa fortalecer a construção de narrativas que remodelem o imaginário, deslocando-se de justificativas morais da violência em direção a radicalização do princípio de igualdade.