Detecção de Leptospira interrogans em Muçuãs (Kinosternon scorpioides Linnaeus, 1766) Cativos na Amazônia Brasileira
Amazônia, Leptospira spp., Leptospirose, Molecular, Quelônio.
A leptospirose é uma zoonose de impacto global e de importância em saúde única causada por espécies patogênicas de Leptospira. Sua ocorrência tem sido negligência por subnotificações, diagnósticos incorretos e estigmatização socioeconômica. No aspecto genômico, a taxonomia leptospiral foi reordenada para grupos de espécies patogênicas e saprófitas, com subgrupos P1, P2, S1 e S2, quanto a sorovaeridade, mais de 290 sorvares já foram caracterizados. Essas bactérias podem interagir de forma distinta com hospedeiros e com o ambiente. Em humanos e animais domésticos pode ocorrer infecção de forma direta ou indireta, por contato com ambiente contaminado com leptospiras eliminadas na urina de portadores renais. Após penetrar um hospedeiro suscetível, os desfechos clínicos podem variar entre infeções sem comprometimento clínico a quadros fulminantes que evoluem a óbito e apresentar duas fases denominadas de leptospiremia (multiplicação pelos humores orgânicos) e leptospiúria (eliminação pela urina). No ambiente, novas descobertas apontam para predileção de leptospiras pelo solo, sobrevivência em ambiente salino e até mesmo em condições de acidez alta com pobreza de nutrientes e, insolitamente, crescimento em solo encharcado. O diagnóstico também é complexo, dentre os métodos diretos destacam-se a detecção molecular, cultura e visualização em campo escuro. Já o método padrão ouro consiste no indireto Teste de Aglutinação Microscópica (MAT). Tais métodos diagnósticos estão detectando a exposição de hospedeiros não convencionais a Leptospira spp., com isolados prevalentes na América do Sul, envolvendo principalmente as ordens Carnivora, Didelphimorphia, Rodentia. Reservatórios não mamíferos, como os quelônios, têm sido usados como modelos de investigação na cadeia epidemiológica da leptospirose, em síntese, por serem organismos semiaquáticos que transitam no solo e na água. Com isso, o objetivo deste trabalho é investigar a presença de Leptospira spp. em amostras de Muçuãs (Kinosternon scorpioides) de cativeiro, na Amazônia Brasileira. Coletas de sangue, urina, lavado cloacal e lavado estomacal foram realizadas em 40 espécimes pertencentes ao projeto Bio-Fauna, na UFRA., totalizando 147 amostras, sendo extraídas utilizando o Kit IllustraTM Tissue and Cell Prep Mini Spin (GE Healthcare®) e submetidas à amplificação do gene 16s rRNA utilizando os primers Lep1 e Lep2. O DNA leptospiral amplificado foi submetido ao sequencimento, análise BLASTn e filogenética. Dentre os quelônios testados, 40% (16/40) apresentaram pelo menos uma ou duas amostras positivas para Leptospira spp., considerando a quantidade de amostras coletadas, 12,24% (18/147) positivaram, assim, onze amostras foram passíveis de sequenciamento e apresentaram de 97,35% a 100% de identidade com sequências de Leptospira interrogans, resultado confirmado pela análise filogenética. Esta é a primeira detecção molecular de Leptospira spp. em Kinosternon scorpioides no mundo e também de DNA leptospiral na urina (micção espontânea), coágulo sanguíneo, lavado cloacal e estomacal em quelônios na Amazônia Brasileira e, com o maior quantitativo de quelônios positivos no Brasil utilizando tal método. Com o exposto, infere-se que, os Muçuãs testados foram expostos a Leptospira patogênica e capazes de albergar DNA das bactérias em seus fluidos corporais, sinalizando seus potenciais papeis como reservatórios.